sábado, 12 de abril de 2008

Da indiferença

Hoje pensava sobre a capacidade de tranformação das pessoas. É sabido, e de conhecimento mais do que comum, que ninguém muda "para sempre". Como diz meu amigo querido, arrancar qualquer característica da personalidade de uma pessoa é como tirar-lhe um braço. Mutilação, violência. Então, amantes e rebeldes, tende paciência.
Mas a transformação acontece em certos momentos, exclusivamente por vontade própria, e dura um período determinado. Pode-se aceitar de tudo, quando se quer, mas não por muito tempo.
Me sinto mudada ultimamente. Muito. E não sei se isso tem me feito bem. Sinto meus sentidos como que anestesiados, uma grande indiferença em relação ao ambiente que me cerca. Mudei porque quis, claro, e tenho aceitado algumas coisas que não aceitei em momento algum de meus 28 anos de vida. Não reclamo, não me queixo, tampouco acredito ser vítima ou um ser passivo no processo. Pelo contrário, por me saber protagonista posso filosofar sobre minha arte camaleônica e analisá-la à luz de meus sentidos dormentes.
Essa indiferença cruel faz parte de um contexto maior, de regressão. De riso fácil, de felicidade imediata e culto ao presenteísmo. Me sinto bem, é verdade, com esta última parte. :-) Mas por vezes preciso tirar o time de campo, me recolher a mim. Voltar para casa. Porque me esgoto, como atriz. Represento e recrio o que conheço, não tenho capacidade de improvisação neste cenário. Sou diferente e sou mais completa quando sou eu mesma. E esse é meu palco: as luzes que me favorecem são as da literatura, dos bons filmes, a trilha sonora são boas músicas, minhas falas vêm de minhas pesquisas, de meu mundo fechado. Sim, ele é fechado. Eu sou. Assim, me somo três quartos e me divido apenas um... é o que posso dar, senão eu durmo. Se não me falas nada de novo, eu acho chato. Se eu não te acrescento, ainda pior. E rir pode ser o melhor remédio, mas não é o único. Vivo sem este mundo etílico, e de cirrose afetiva é que não morro. Por overdose de afeto, sim. Talvez. É essa a única droga que não me entedia.