quinta-feira, 16 de julho de 2009

Não existe a princesa.

Seria mais fácil desistir.

Mais fácil, sem dúvida. No momento, agora, já, pois o que incomoda mesmo, chateia, deprime, é saber que alguma coisa não está bem. É ouvir aquele sussurro miúdo, lá dentro... Merda! Ouvir esta voz, essa, aquela, que fala tão baixo que quase se pode dizer que fala muda. Dá uma sensação de incômodo, calcinha fio-dental, sapato novo, sei lá... uma dor que não se sente, porque não se sabe qual é, ou porque já faz parte da gente.

Seria mais fácil desistir.

Mas e daí?
Nenhuma conquista fácil tem grande valor.
Nenhuma conquista fácil é conquista.

Mas a verdade do momento era que o caso dela era de uma reles e burríssima negação.
Não queria ver.

Não queria pensar.
Não queria sentir.
Não queria nem tentar.
Muito medo.
Muitos medos.
Tantos que podia listá-los.

Tinha medo:

1. dos Monstros do Oeste
2. dos Langoliers
3. do escuro
4. dos vampiros
5. dos fantasmas
6. de ratos e morcegos (que são a mesma coisa)
7. de engordar
8. de que ninguém aparecesse nos seus aniversários e, sobretudo, no seu velório.

E, como sabia disso, tinha consciência de que o que temia era a Verdade.
Mas o que podia fazer? Era insegura por ego e teimosa por alterego.

Um caso perdido que não precisava de solução.

"Não tive filhos não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria."

Ela optou por negar ao próprio filho, àquele ser que tanto desejara um dia, a existência. Porque o amava, e porque sabia, sem culpa, que seu amor era venenoso. Foi por saber que não conseguiria lhe dar o que ele mereceria ter que lhe poupou da vida.

Sábias palavras de Machado. O maior feito de um homem, o único e definitivo que prova sua humanidade e compaixão, é não legar àquele que diz amar a maldição de lhe ser semelhante: a imperfeição, essa imperdoável, insuportável, pré-condição para se "ser humano".