sábado, 9 de outubro de 2010

natural born idiots

Não nos entendemos no sexo, no diálogo, na música, na brincadeira ou na dança.
Mentimos juntos, mas nem então há sintonia.

Talvez pelo desespero, tenhamos caído na tentação de acreditarmos nós mesmos em nossa fantasia.
E foi então que os dois mostramos, criança, que por trás de tudo o que esconde nossa verdade, está ele,
gritando,
implorando,
desesperando,
nosso monstro faminto.
É uma espécie de vácuo, força que atrai, destrói e se alimenta de tudo o que ousa aproximar-se.
Somos assassinos, meu amor.

Hum... talvez por isso essa vontade de arrancar tua cabeça, hoje.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Só isso?

Mulher...
O que, tão furiosamente, persegues?
O que te move?
É a fé ou a falta dela?
Tu não consegues acreditar, não é verdade?
Não confias mais. Não te entregas mais.
- Dei meu coração perfeito e o recebi de volta sangrando, ela diz.
Mas por que, então, ainda insistes?
- ...
.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Distante, distraído, dividido.

Procuro-te no espaço improvável,
em corpos aleatórios,
em horários impossíveis.
À espreita,
em alerta,
espero teus ruídos,
que não vêm.

Mas tudo bem...

Já que meu desejo se basta,
já que teu desejo me basta,
já que é tudo o que terei,
aprendo dia-a-dia a amar tua ausência
e a criar tua presença a partir dessa distância infinita.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Viva a resistência.

Bendita seja a dúvida.
E bem-vindas a pergunta que não cala
e a dor que dói com causa.
Não temo a resposta, ainda que ela se demore enquanto eu padeço.
Só peço coragem – tanto para aceitá-la quanto para lutar pela vitória justa.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Para aquele que pula minha janela.

Te amar, mesmo sem ter certeza, e te odiar, por isso: atividades minhas de quase todos os dias. Significados que não decifro, mensagens que não entendo, sonho contigo como com ninguém mais. Nestas manhãs acordo murcha. Uma vontade desesperadora de te ver, te cheirar, ouvir, sentir e, quando deixo, tu tomas de súbito meu peito como se arrancasse meu coração em punição por minha transgressão imperdoável. Minhas mãos, meus braços, minha voz tremem. Sou agora apenas paixão. Tu não sabes - e disso me orgulho. Sou suficientemente humana e corajosa ao ponto de suportar essa quase voluntária tortura auto-infligida.

Mas não te culpo ou me aborreço, amado carrasco. Dói, claro, mas seria mais provável que te agradecesse, pois, travestido em dor, tu me tocas mais uma vez.

É preciso deixar falar a voz que cala.

Sentir é saber, mais do que sempre creio que esta pode ser uma verdade. Mas eu me pergunto, duvido, questiono, espero. Vício antigo, talvez, mas a idéia de que duvidar de mim mesma possa ser uma maneira de me cuidar revela-se surpreendentemente coerente. Os motivos pelos quais questiono meu amor parecem ser bastante menos desabonadores. Reconheço a esperança, o amor próprio e o orgulho por ter finalmente me transformado em mim.